quinta-feira, 27 de junho de 2013

O que se quer






As manifestações pelo país continuam. O Movimento Passe Livre de São Paulo, grupo que iniciou toda essa revolução, conseguiu atingir seu objetivo de não deixar aumentar o valor da passagem em 20 centavos e saiu oficialmente da briga. Entretanto, a multidão quer mais. Sem muito foco ou alvo definido, a população não organizada (uns dizem despolitizada) continua nas ruas protestando sobre uma infinidade de assuntos.
Confesso que a proximidade com os fatos, a falta de conhecimento e a intensidade com que tudo tem acontecido não me deixam ter uma opinião formada sobre o assunto. Uma hora falam de golpe dos fascistas e em ditadura, outra hora é a esquerda quem quer trocar o nome do país pra República Lulista Brasiliana. Complicado! Mas, pra não deixar passar em branco esse momento histórico pelo qual temos atravessado, vou tentar discorrer brevemente sobre minhas impressões.

A coisa mais importante nisso tudo, mesmo com os erros e exageros, é a manifestação popular homogênea. O que começou com um grupo pequeno e organizado acabou contagiando todas as classes e ideologias. Tem cartaz pedindo a cabeça do Feliciano, da Dilma e até do Lula, mesmo que este não exerça, oficialmente, o Poder (interessante, aqui em São Paulo, ver pouca gente detonando o Alckmin), gente pedindo o essencial – saúde, educação e segurança - e mais uma infinidade de demandas. 
A segunda coisa importante, que talvez até empate com a primeira, é ver a Presidenta e o Congresso se movendo. A máquina estatal, morosa e pesada pra dar qualquer benefício pra gente que é pobre, tem se movimentado com uma agilidade sueca. Dilma Fez um pronunciamento oficial convocando uma constituinte pra uma reforma política (o que achei exagerado), jogou a bomba no colo do Congresso quando pediu 100% dos royalties do petróleo pra educação, além de ter colocado o fator social acima do econômico. O Senado (esse mesmo do Renan Calheiros), inclusive, aprovou o projeto de lei que torna a corrupção como mais um dos crimes hediondos tipificados na lei. Quanta coisa, não? E pra quem dizia que esse barulho todo pelo Brasil era apenas arruaça, coisa de vagabundo: Chupa!
A terceira coisa que eu queria comentar é sobre a motivação popular para tamanha revolta. Pra isso vou usar a Copa e seus estádios. Esses dias, ouvi o Antero Greco, comentarista esportivo da ESPN, dizer algo interessante. O negócio não é que não queremos a Copa. A birra é saber que no orçamento o estádio vai custar, por exemplo, R$ 500 milhões e no final sair pelo triplo desse valor. A Globo vem e mostra o Maracanã dizendo como ficou lindo depois da “reforma”. Rapaz, pelo valor que foi gasto, ser lindo nem deveria causar espanto. É o mínimo!
E pior é não ver legado algum fora essas arenas (algumas fadadas a serem elefantes brancos). Mobilidade urbana, aeroportos, serviços públicos não mudaram. Nada aconteceu! E, bem sabemos, jogo de seleção é coisa pra playboy. Pobre quer mesmo é poder ir sentado no ônibus, levar sua esposa ao hospital sem o receio d'ela piorar por lá, saber que seu filho recebe na escola uma educação de qualidade, merenda de qualidade, oportunidades de qualidade. É isso o que se quer, pô!
Mais do que qualquer reforma política e econômica, espero mesmo é ver o brasileiro mudando alguns paradigmas, algumas manias torpes que ainda passeiam livres por aí. Como disse no meu último texto, temos que dar um jeito nesse nosso “jeitinho brasileiro” pra que o Brasil possa finalmente se ajeitar.

Márcio Antoniasi


PS: esse é nosso centésimo texto! Um blog que começou sem qualquer pretensão, mais como uma forma de poder opinar sobre as vicissitudes sociais, políticas, literárias, etc, consegue, ainda que em pequena escala, levar o debate e o pensamento crítico a um bom número de pessoas. Agradecemos a todos nossos leitores, nossos apoiadores e, claro, aos nossos opositores. É assim, com indagações, questionamentos e discussões que se semeiam revoluções e mudanças concretas como estas que vemos agora.
Faltou a Thaís Coelho! Temos que tirar uma foto juntos.


sexta-feira, 21 de junho de 2013

Esquecemos de lutar por um transporte público de qualidade?


Acredito não ser o único a me sentir confuso ou irritado ao refletir o que as duas manifestações que ocorreram em Florianópolis (18 e 20/06/2013) estão simbolizando, com o que podem vir a representar, quais grupos estão participando das mesmas e o que este suspeito apoio da mídia quer dizer. Estes dois atos  que, ao meu ver, a pauta principal era –ou deveria ser? - a conquista de um transporte público de qualidade ou/e a luta pelo passe livre se transformaram, para muitos, em uma luta para mudar o Brasil de uma hora para outra, mas... de qual forma? Com qual solução? E com quais consequências? Neste texto expresso, em poucas linhas incapazes de abarcar ou problematizar com uma reflexão contundente o que está ocorrendo em Florianópolis, meu descontentamento com a pouco atenção que a questão de mobilidade urbana e transporte público de qualidade recebeu, sobretudo na manifestação do dia 20/06/2013, da qual estive presente.
Nesta manifestação vi muitos cartazes com diversas frases sobre os variados males da nação. Muitas pautas que devem ser muito debatidas e refletidas! Não sou contra buscar e propor boas mudanças para o Brasil, em lutar contra o Feliciano, contra a corrupção, contra os enormes gastos com a copa do mundo etc. contudo, estamos perdendo a oportunidade de debater sobre algo pontual e concreto que atinge os habitantes de Florianópolis e região diariamente, que  é o caos na mobilidade urbana.
É importante recordarmos a história de Florianópolis com relação aos movimentos em busca de redução da tarifa de ônibus e da conquista do passe livre. Grosso modo, já faz algum tempo que no calendário de Florianópolis estava marcada anualmente a tradicional greve dos funcionários do transporte coletivo, na qual, após algum tempo de greve, sempre resultou em um aumento da passagem e em infrutíferas manifestações contra este aumento, com a exceção da que ocorreu em 2005 que conseguiu revogá-lo.[1] Desde 2004 estas manifestações nunca contaram com ampla participação da população ou tanta repercussão e apoio da mídia conservadora de Santa Catarina.

Este ano foi diferente, pois: ocorreu a tradicional greve dos trabalhadores do transporte coletivo – solucionada rapidamente - mas, que não resultou em um aumento da passagem; houve uma enorme participação da população nas recentes manifestações que não lutavam contra o aumento da tarifa, e sim, a princípio reivindicavam um transporte público de qualidade e o passe livre; além disso, a mídia está apoiando as manifestações e ressaltando que os vândalos são minoria no movimento. Neste sentido, já antes da grande repercussão das manifestações que ocorreram em São Paulo, havia sido marcada uma manifestação para o dia 20/06/2013 em busca de um transporte público de qualidade. O que é ótimo, pois, o transporte público e a mobilidade em Florianópolis são terríveis. Antes desta manifestação, no dia 18/06/2013, muito em virtude da grande repercussão dos movimentos em São Paulo e outros lugares do Brasil ocorreu uma manifestação, organizada quase em cima da hora, muito com o intuito de dar apoio às outras manifestações do país e reivindicar um transporte de qualidade. Não fui nesta manifestação. Importante ressaltar a grande participação no ato dia 18 capaz de fechar as duas pontes (únicas vias de entrada e saída para ilha e continente, marcadas por um tradicional e caótico congestionamento em horários de pico).

Na manifestação do dia  20/06/2013 que estava marcada para começar às 18 horas o que menos vi foram cartazes ou falas com reivindicações pelo passe livre, a favor de uma melhor mobilidade urbana e um transporte público de qualidade,  isto se comprova também pelo pouco ânimo para se cantar músicas contra a tarifa ou relacionadas a este tema. No final do protesto, uma minoria com cerca de 300 pessoas mantiveram as pontes fechadas até 00:00 (elas foram fechadas a partir das 19 horas). Não consigo pensar em um bom argumento para manter a única saída da ilha para o continente por tanto tempo, pois, a manifestação, ao meu ver, já havia acabado e a “mensagem” já havia sido dada.
Enfim, esquecemos de lutar por um transporte coletivo? Qual mensagem estamos querendo passar? Pelo que lutamos? Acredito ser necessário voltar para a ordem do dia o debate sobre o transporte público e a mobilidade de Florianópolis a fim de buscarmos soluções para este grave problema.

Gustavo Tiengo Pontes
23 anos
Graduando em História pela UFSC




[1] Sugiro o documentário Impasse para mais informações sobre estas manifestações.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Vamos dar um jeito no jeitinho!



Hoje é um dia especial em Castilho. Sei que os protestos começaram em São Paulo por motivos específicos para os paulistanos, mas o movimento se alastrou e ganhou o país. Nós aqui poderíamos muito bem apenas ficar assistindo ao Jornal Nacional e compartilhando/curtindo no facebook, mas não. Logo mais traremos também nossa contribuição a esse movimento que tem sido um sopro de vida para o nosso orgulho ufanista.
Ganhando as ruas, as conversas, a rede e fazendo bambear as pernas dos políticos politiqueiros, os protestos pelo Brasil trazem à tona uma variedade gritante de insatisfações e angústias. Dos 0,20 centavos até a efetiva punição dos mensaleiros, todo mundo tem algo que quer ver mudar pra melhor. Aliás, os 0,20 centavos são apenas a gota d’água. Cansados de tanto apanhar, de sermos feitos de palhaços, das falcatruas e escândalos, agora estamos todos unidos nas ruas buscando alguma mudança e aquela dignidade de poder bater no peito e dizer: aqui é Brasil, porra!
Ouço as pessoas mais velhas reclamando e avacalhando com essa atitude da juventude. Nunca entendo isso. Se ficamos ON somos um bando de bundões sem cérebros, comidos pela preguiça (minha mãe falava isso). Se finalmente acordamos e lutamos por algum ideal, mesmo que este ainda seja confuso e insólito, somos um bando de vagabundos e desordeiros.
Inclusive, pra mim, essa revolução tem justamente a ver com essa atitude dos mais velhos, dos nossos pais. Somos a geração internet, informação, interação; eles são a geração TV, assistindo impotentes, passivos e cansados pela lida o que o Bonner resumiu. E isso nem é uma crítica. É só uma análise. Não queremos mais isso pra gente e pros nossos filhos. Queremos mais; queremos melhor.
E aí entra a política, e aí entra a participação de todos. Existe uma frase que diz que se você fizer sempre as mesmas coisas vai obter sempre os mesmos resultados. Concurseiros gostam dela. Devemos tomá-la como norte, como alicerce pras nossas ações. Se você, amigo manifestante, não quer a perpetuação de tudo o que te incomoda, se você quer ver esse mais do mesmo mudar pra algo melhor, faça diferente e lute pra que o resultado seja outro.
E aí entra nossa “cultura”. O famoso e até incentivado jeitinho brasileiro, desculpa esfarrapada pra mau-caratismo, tem que morrer. Carteirinha de estudante é só pra estudante, idosos tem preferência nas filas, o dinheiro a mais no troco não é seu, as vagas de estacionamento para deficientes e idosos são para deficientes e idosos, os professores não são monstros e merecem respeito não só do governo, mas, igualmente, dos alunos, o subornar e ser subornado também não vale, dentre tantas outras “manias” que temos. Modificar essas e outras tantas pequenas atitudes podem fazer do Brasil um país melhor, transforma-nos numa verdadeira nação.
Mais importante que isso, não se deixe levar pela politicagem podre que existe por aí. Vender o voto, fingir que vendeu pra ganhar um troco e enganar o candidato, apoiar campanha esperando cargo público, fraudar concurso, ligar pra um conhecido e exigir vantagens, pedir tratamento VIP pra político é tudo farinha do mesmo saco. Uma verdadeira reforma política só vai sair do papel e tomar forma concreta depois que essas pequenas coisas não existirem mais.
Pra encerrar, gostaria de deixar aquele incentivo pra galera que vai participar. Façamos nossa parte nessa mobilização nacional por um Brasil melhor no futuro. Façamos direito, com ordem, pra que os incrédulos vejam que é pra valer, que queremos uma mudança real e palpável, que cansamos de apenas ouvir falar num lugar saudável e digno para vivermos. Vamos dar um jeito nesses jeitinhos e ajeitar o Brasil. VEM PRA RUA, CASTILHO!


Márcio Antoniasi


PS: fiz esse texto enquanto o Brasil enfrentava o México pela Copa das Confederações. Quem me conhece sabe o que significa.

terça-feira, 18 de junho de 2013

FAÇA!




“Pois eu digo: aja pela palavra, pelo pensamento. Diga, fale, grite, escreva, pense, argumente, negue, afirme, seja irônico. Responda com o silêncio quando pedirem voz, com peidos de suvaco quando pedirem palmas. Somos só uns bunda moles atrás de um computador, mas esse é um exército que incomoda. Deus não fez a luz, ordenou que ela existisse. Ordene uma revolução e quando ela vier, aja! Esse ato valerá por mil palavras".

                   Trecho do texto PARLA!, o primeiro que escrevi no blog Opositores. Ordenamos a revolução e ela veio. Fiquei sem palavras. 




                                                                                                                     Juliano Cardoso

[ DIA 20 DE JUNHO, EM CASTILHO, FAÇAMOS NOSSA PARTE. MANIFESTAÇÃO EM APOIO AO MOVIMENTO NACIONAL E EM PROTESTO CONTRA OS PROBLEMAS DE NOSSA CIDADE. VÁ E APOIE]

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A efervescência dos anos 20 - Parte 2

Enfim assisti ao “O Grande Gatsby” neste fim de semana! Depois de uma longa espera, a adaptação da obra de F. Scott Fitzgerald para o cinema se tornou o filme mais aguardado dos últimos tempos por mim. Ele estreou aqui no Brasil no dia 7 deste mês, mas só pude assisti-lo neste fim de semana. Dá pra imaginar então a minha ansiedade durante a semana. Como compartilhei em meu primeiro texto minha grande expectativa  pela estreia do filme,  me senti impelida a contar minhas impressões. Eis que trago algumas considerações.
Importante: se você ainda não assistiu ao filme e não quer ser influenciado pelos meus achismos, pare por aqui.


No cinema em que assisti não tinha sessão em 3D. Sinceramente, não sei por que essa opção. Acho que um filme pra ser em 3D tem que ser um filme de ação, de super-herói ou alguns desenhos animados. Logo, não cabe para Gatsby esse feito. No início do filme fiquei um pouco tonta com tantas reviravoltas da câmera, o que pode ser para adaptá-lo aos expectadores que gostam de assistir em 3D ou parece ser característica de filmes do diretor Baz Luhrmann.  Novamente, não vi necessidade disso e logo que o filme começou fiquei um pouco decepcionada,  pois tudo era muito rápido, artificial e por vezes não tinha sentido. Lá pela metade do filme, a câmera se acalmou e o filme melhorou significativamente.
As grandiosas festas oferecidas por Gatsby e sua mansão me surpreenderam. Não sei se na minha cabeça de pobre, acostumada com pouco luxo, não consegui imaginar tanto esplendor ao ler o livro. Já tinha assistido ao trailer, e mesmo assim fiquei chocada com tal grandiosidade e exuberância. Penso que o exagero queria realmente apresentar a discrepância da sociedade da época e a efervescência econômica dos anos 20, que resultou na crise da bolsa de valores de 29.
Agora o grande trunfo do filme: Jay Gatsby interpretado por Leonardo Di Caprio. Tirando a primeira parte, que como já disse não me empolgou muito, ele me conquistou no filme. O último que assisti com ele foi Django, de Tarantino, em que o ótimo Jamie Foxx o ofusca e com louvor. Não sei quanto a vocês, meninas, que assistiram ao filme, mas acredito que muitas se apaixonaram por  Jay Gatsby. Apaixonei-me por Di Caprio e por seus olhos azuis novamente, assim como na minha adolescência, quando ele fez o  Romeu, em Romeu e Julieta de 1997. Leonardo traz uma doçura e um amor à Daisy (Carey Mulligan) que eu não tinha sentido na obra de Fitzgerald.
Pausa para um longo suspiro porque todas sonham e querem um Gatbsy! rs.


A trilha sonora mesmo sendo muito boa, não ornou com o longa. Não por se tratar de músicas atuais, mas se  tivesse uma trilha com mais jazz - estilo de música que bombou na época - acredito que seria bem melhor. Há algumas ressalvas, como o momento em que toca Love is Blindness, do U2, ao som de Jack White que realmente casou a música com o enredo.
Como não sou crítica de cinema, digo que gostei muito do filme quanto a ele ter me tocado de alguma maneira. E também porque não me decepcionei. O filme tem mais de duas horas, mas em momento nenhum fiquei entediada e nem vi o tempo passar. Admito que quando assisto a um filme no cinema, me envolvo e saio completamente absorvida por sua atmosfera. E não é essa justamente a magia do cinema?!

 Quem assistiu ao filme me contem o que achou. Espero que todos tenham lido a obra antes de assistir ao filme, hein!!!

Thaís Coelho

sexta-feira, 14 de junho de 2013

A saúde está doente!



O título deste texto é um trecho de uma musica que foi exaustivamente tocada na greve dos servidores públicos de Castilho e retrata uma triste, mas verdadeira realidade no Brasil. Estamos como aidéticos, onde a falta de médicos tem nos deixado em estado febril.
Diferente do que o CRM (Conselho Regional de Medicina) defende, não faltam apenas médicos nos confins e sertões desse Brasil. Segundo Henrique Prata, Diretor do Hospital do Câncer de Barretos, “esta mais fácil achar ouro que médico”, de maneira que deixam de ser atendidos cerca de 450 pacientes/dia devido à falta de profissionais especializados. Ainda segundo Henrique, tem-se hoje um déficit de 70 médicos oncologistas.
Os altos salários também não são atrativos para médicos exercerem a medicina em alguns lugares. Um dos exemplos é o da cidade de Porto Estrela em MT, onde a prefeitura aumentou o salário dos médicos para R$ 25 mil por uma jornada de 40 horas, porém desde dezembro de 2012 a cidade não conta com nenhum médico para atender a população local.
Unidades de atendimento bem equipadas também não são garantias de contratação e manutenção de médicos. Em Camargo, no Rio Grande do Sul, mesmo com duas unidades de saúde bem equipadas para o atendimento básico e um salário de R$16 mil mensais não são suficientes para manter os médicos trabalhando na cidade de 2 mil habitantes, de modo que a prefeitura esta ansiosa para a aprovação de um projeto de lei onde o morador que residir a mais de cinco anos na cidade e for aprovado em vestibular de medicina em instituição privada terá seu curso totalmente pago pela prefeitura, não importando o valor da mensalidade, desde que o mesmo se comprometa a trabalhar de cinco a seis anos na cidade depois de formados.
Podemos ver que a falta de médico é uma infecção generalizada em todas as regiões do Brasil, de Leste a Oeste, de Norte a Nordeste. Mas qual a causa dessa doença tão letal?
As somas de alguns fatores explicam o problema. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), existem no Brasil 1,8 médicos para cada 1000 habitantes, número abaixo de paises como Argentina (3,2), Portugal e Espanha (4) e Cuba (6) por cada 1000 habitantes. Além do número baixo, a distribuição dos médicos é desproporcional, já que no Distrito Federal encontramos 4,09 médicos e no Maranhão temos 0,71 médicos para cada grupo de 1000 pessoas.
A alta demanda somada a baixa oferta de médicos cria um desequilíbrio, onde os serviços médicos tornam-se cada vez mais caros devido à escassez de mão obra. Dessa maneira, médicos podem escolher onde trabalhar e, por isso, se concentram mais em capitais e cidades maiores, criando um problema. Não veja o médico como vilão, pois sendo ser humano e trabalhador que é (não venha dizer que medicina é vocação), ele tenderá a buscar trabalhar em um lugar onde ofereça maior custo beneficio, já que tem essa possibilidade de escolha.
Para tentar amenizar o problema, o governo vem tentando criar mecanismos para atrair médicos de paises com taxas de medico/habitantes maiores que aqui, como é o caso de Cuba, Espanha e Portugal, para trabalharem em regiões carentes de grandes cidades e em áreas que não são atrativas para quem exerce a medicina como a Selva Amazônica ou o sertão Nordestino. Uma das primeiras medidas que o governo vem tentando é firmar um convenio com Cuba para a contratação de 6000 médicos temporários para atuarem nessa área, mas esta encontrando forte resistência principalmente do CRM, CFM e da direita Brasileira. O CRM e CFM defendem que os médicos Cubanos têm baixo nível de aprovação no exame de revalidação de Diploma aplicado no Brasil, enquanto a direita acusa o governo de estar trazendo missionários cubanos que irão pregar o comunismo com a desculpa de exercer a medicina em regiões carentes.


Quanto à primeira tese, estive lendo sobre o assunto e vi que o método de Medicina Cubana é diferente do Brasileiro, pois lá o que predomina é a medicina preventiva. Esse tipo de medicina mostra-se ideal para áreas pobres e de risco como as comunidades ribeirinhas, sertões, e bolsões de pobreza das grandes cidades, onde as condições de trabalho não são ideais. Esse tipo de Medicina fez Cuba alcançar uma taxa de Mortalidade Infantil de 5,8 por 1000 nascimentos enquanto no Brasil a taxa é de 15,6 por 1000. Isso mostra que a medicina Cubana não deve ser tão ruim como andam dizendo por ai. Já a segunda tese é defendida pelas mesmas pessoas que diziam que o PT iria acabar com o Real quando assumisse o governo, que o Lula iria estatizar as empresas privadas, que o salário mínimo deveria crescer o mínimo possível para não gerar inflação (a inflação no último ano do PSDB no governo em 2002 foi de 12,53 %). Então, nem vamos zoar, porque, vai que é doença, né?
Agora vem a pergunta. Para um ribeirinho que precisa andar centenas de quilômetros dentro de um barco para chegar até o posto médico mais próximo, será que importa se o medico for de Cuba ou do Japão, ou de Marte, desde que este esteja disposto a atendê-lo na cidade onde ele reside?
Nesse debate vejo que muitos tem se esquecido da questão humana. Apenas criticam o governo por não dar condições de trabalho nessas áreas, o que não deixa de ser plausível, mas se esquecem de que nessas áreas vivem pessoas que necessitam serem atendidas e já que os médicos formados aqui não querem trabalhar nessas áreas, porque então fazem tanta pressão para que não venham médicos estrangeiros?
Como medida emergencial é valida a estratégia do governo sim, pois ajudará a amenizar o problema em curto prazo, mas sei que a médio e longo prazo é necessário investir na formação de médicos para reduzir o déficit que existe e equilibrar a função, fazendo com que os médicos tenham que procurar novos lugares para exercerem a profissão, além de investir mais na estrutura para o tratamento dos doentes.

E digo mais. Bem que eu queria que viessem alguns médicos estrangeiros para Castilho, já que estamos enfrentando o problema da falta de médicos interessados no atendimento público.  

Silvinho Coutinho

quarta-feira, 12 de junho de 2013

PELO CONTROLE SOCIAL



Nos últimos dias, os jornais, TVs e internet têm sido tomados por notícias sobre diversas manifestações públicas no Brasil e no mundo.
Além do genocídio de índios em Mato Grosso do Sul, tem sido noticia no Brasil as manifestações de jovens em varias capitais do país que lutam contra o aumento de tarifas do transporte público. Em três destas capitais o movimento que é basicamente estudantil saiu vitorioso, barrando o reajuste das passagens do transporte público, um tipo de serviço público que é terceirizado no Brasil, mas que não deixa de ter os lucros subsidiados pelo Estado.
Dentro deste contexto de levantes populares, o destaque maior têm sido os intensos protestos populares na Turquia. A chamada grande mídia brasileira, dominada por uma oligarquia midiática onde seis famílias controlam 70% dos meios de comunicação[1] afirma que estes protestos se dão devido a decisão do governo turco de destruir uma praça pública para a construção de um Shopping Center na capital, Istambul. No entanto, seria duvidar da inteligência das pessoas relacionar estes grandes protestos a apenas uma questão ambiental, de preservação de espaços verdes, como os órgãos de imprensa têm tentado fazer acreditar.
A destruição de uma praça para a implantação de um centro comercial é na verdade apenas a ponta de um iceberg de insatisfações com uma política neoliberal que tem privatizado espaços públicos e a gestão do serviço de água na cidade de Istambul.[2]
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Revolta dos jovens turcos foi resposta à privatização de Istambul. Levante revela emergência das lutas pelo Comum urbano e ambiental. 
 Já em Castilho/SP, logo após a maior greve da história do município promovida pelos servidores públicos, o Conselho Popular de Moradores que luta pelo fim da concessão do serviço de água e esgoto lançou a campanha “Fora Águas de Castilho. Referendo Já!”.
Trata-se de uma mobilização popular, cujo objetivo é promover um Referendo onde a população opinará democraticamente através do voto qual deve ser o futuro da privatização do saneamento básico em Castilho/SP. Será a primeira consulta popular para decidir sobre um serviço público na historia do município, algo inédito também em escala nacional. O resultado deste Referendo pode ter poder decisório diante da Justiça.
Desde já, o Conselho Popular trabalha pela campanha de fim da concessão do serviço de saneamento básico no município.
O que estes fenômenos sociais têm em comum, guardadas as devidas proporções, é que fazem parte de um amplo contexto de resposta popular a políticas neoliberais que há décadas vem sendo implantadas no Brasil e no mundo, inclusive em Castilho-SP. O neoliberalismo busca a desregulamentação de leis que garantam direitos sociais. É a tentativa, por exemplo, de por fim às garantias trabalhistas da estabilidade no emprego, além de reformas do Estado como a privatização de setores estratégicos como da energia elétrica, telecomunicações, minérios, petróleo, e a entrega de serviços públicos, como o da água e esgoto.
No momento, o Conselho Popular de Castilho/SP reivindica o fim da privatização do serviço de água e esgoto, mas pode e deve estar marcando o início de uma  tendência em Castilho e que vem se desenvolvendo em outros lugares, onde a sociedade começa a reivindicar maior participação nas decisões de Estado e, principalmente, maior controle sobre serviços públicos. Ao que parece, cada vez menos é aceito passivamente a construção de usinas de álcool, reformas de hospitais particulares, construção de portal de entrada ou concessões de águas e esgoto sem que tudo isto seja uma decisão popular.

Dóri Edson Lopes   

segunda-feira, 10 de junho de 2013

CULPADO!




Há algumas semanas Castilho foi sacudida com duas notícias bombásticas sobre a suspeita de estupros em escolas municipais. Alarmismo, apocalipse, opiniões e linchamentos. Onde esse mundo vai parar?
Quem é o suposto estuprador? Quem fez essa barbaridade? Não importa! O negócio é linchar o primeiro desavisado que passar na frente, descontar a raiva que as notícias datenísticas nos causaram com o passar dos anos, e depois apurar os fatos.  Investigação, processo legal, ampla defesa? Isso é frescura, coisa de boiola. Voltemos aos tempos da caverna e decidamos nossas diferenças pela força.
 


 Vi esse vídeo e me senti muito mal. Estamos bestializados! Temos twitter, wireless, touch screen, e um porrete embaixo do banco do carro pro caso de uma fechada no trânsito. Cada vez mais conectados e descolados; cada vez mais solitários e agressivos. Setecentos amigos no facebook e, quando adoecidos, é a mãe, já velhinha, quem está presente.
Julgar, eis a primeira reação. E o pior é ver também alguns veículos de comunicação caindo na mesma cilada. O agravante é que na internet é aquela história de espalhar penas ao vento: nunca mais se retorna ao estado inicial. Percebi que muita gente se horrorizou e “divulgou” a notícia ruim, mas a retratação quase ninguém viu. É aquele velho gosto pelo bizarro, pelo sadismo.
Nos dois casos castilhenses e no vídeo a acusação inicial propagada foi logo modificada após uma pequena apuração. Inocentes foram inocentados, bons serviços foram reconhecidos e as coisas voltaram quase ao normal. Claro, tudo que sobrevém em nossas vidas acaba deixando marcas, umas mais perceptíveis e outras nem tanto. Espero que para os protagonistas injustiçados seja a segunda opção. Aos julgadores: calma lá, meritíssimos.

Márcio Antoniasi