sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A cultura em Castilho: onde está o popular?

Nos últimos textos tenho evitado falar sobre a administração de Castilho.  Nesse primeiro ano de blog, foram mais de 30 mil acessos e muita polêmica. Percebi que muita gente em nossa cidade não está acostumada com opinião. Para essas pessoas, toda crítica é interessada em uma teta da administração. Talvez leiam os nossos artigos com um espelho nas mãos. Só são piores aqueles que nem lêem e cobram de nós não palavras, mas atitudes. Mal sabem eles a atitude que carregam certas palavras. A inquisição e a censura na ditadura militar sabiam muito bem disso...
Enfim, depois de um tempo sem críticas à administração, aqui estou para falar, novamente, de nosso departamento de cultura.  Primeiro, elogiar. Semana passada, nosso amigo Fordinho e sua equipe promoveram uma bela semana cultural, com diversos eventos musicais que há temos não víamos por aqui. Ninguém duvida da capacidade de nosso diretor, especialmente eu, que já participei, em um tempo remoto, da sua big band e pude observar de perto sua capacidade e, principalmente, sua paixão pela música e pela arte. Foi mais um tiro certo de Joni para o cargo.

Créditos da foto: Portal Castilho
 

Entretanto, tenho uma crítica a fazer. Ainda vejo predominar nas ações culturais promovida por nossa administração alguns estereótipos de cultura, marcados, geralmente, pela promoção da arte clássica, especialmente na música: violinos, metais, orquestras etc. Não que se deva esquecer esse esses modos de expressão artística, pelo contrário, tem que se dar acesso a todos os tipos de cultura. É por isso mesmo que creio que se deve promover maior diversidade artística, principalmente no âmbito da cultura popular. 
Ideia interessante para o próximo ano seria a de o departamento de cultura mapear, primeiramente, os talentos da cultura popular existentes em nossa cidade: bandas de pagode, rap, rock, sertanejo, MPB. Além disso, cultura não é só música. É, também, artes plásticas, fotografia, grafite, teatro, cinema, capoeira, literatura e muito mais. Por isso, realizar esse mapeamento, em minha modesta opinião, seria fundamental para ações mais eficientes de incentivo e promoção da cultura já existente. Para se ter uma ideia, quarta-feira, dia em que se iniciou a Semana Cultural, foi também dia da consciência negra e não me lembro de alguma ação cultural que lembrasse a influência da cultura negra em nosso país.  Talvez, com o mapeamento das expressões artíticas de nossa cidade, fosse possível, nessa data tão importante para nossa identidade, promover a expressão dessa cultura.
O meu alento é que conhecendo o nosso diretor, sua humildade, capacidade e disposição parar trabalhar, certamente virão ações mais diversificadas para o próximo ano. O meu desalento é a incerteza da liberdade e automia que ele está tendo no departamento. Vou continuar observando e, se necessário, relatando...
 
Samuel Carlos Melo 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O FIO DOS DIAS


 
Por onde começar a análise das mobilizações e manifestações no Brasil? Por onde continuar a análise? Que perspectiva cabe estabelecer?
Uma mobilização democrática, juvenil e popular. A soberania do povo; dos jovens, principalmente. Uma presença de mulheres marcante. Os operários dispersos na massa. Assim tudo recomeçou em 2013.
Por que e para que sair às ruas? Um enfrentamento das condições de vida em deterioração. Uma crise econômica ameaçando desatar. Uma inflação sorrateira, mas presente. Um nível de endividamento preocupante. Um desperdício evidente em projetos para a copa mundial de futebol. Uma percepção: as coisas pioram.
Um desastre dos transportes coletivos. Quem nunca havia saído às ruas em mobilizações, saiu agora em defesa da saúde e da educação. Ninguém suporta mais a precariedade em setores mais do que básicos.
Uma primeira tentativa repressiva do governo não derrotou as passeatas. Dois enfrentamentos começaram. Enfrentar a policia nas ruas. Ganhar a opinião publica. A repressão retrocedeu. Vieram algumas concessões ao movimento de massas. Mas as mudanças em profundidade e a resposta aos problemas postos não chegaram.
O governo federal ficou meio paralisado. O regime perdeu-se nas suas reações. Sem iniciativas de alcance estrutural. A relação de forças mudou. Manifestações e mobilizações escapavam ao raio de ação dos governantes e do regime. O que fazer?
Os partidos do regime foram afetados pela situação. Partidos do governo, do regime: os defensores do capitalismo. Todos perderam, embora se apressassem em interpretar os acontecimentos nos horizontes das conveniências da dominação.
Dilma caiu nas pesquisas. Os demais partidos burgueses, ou simplesmente eleitorais, também. Divergem eleitoralmente; mas eles convergem no mesmo esquema de dominação.
Pesquisas de popularidade, eleitorais, oscilam sempre. Isto pode ser recuperado. No horizonte capitalista, de opções burguesas, candidatos e figuras públicas transformam-se em sabonetes nas prateleiras eleitorais. Não importa muito o cheiro; vale a embalagem. Logo os vendedores de candidatos vão entrar em ação.
Não dá para ignorar uma coisa muito a importante. As relações do PT com as massas sofreram uma mudança. Isto é pouco: mudaram as relações do partido do governo e os de seu campo de dominação com a classe trabalhadora. Esta precisão conceitual é básica na compreensão das mudanças de fundo.
Abriu-se uma situação onde, e quando, se colocam temas de discussão e possibilidades de ação, inexistentes antes.
Na classe operaria, nas fábricas e nos estabelecimentos básicos da produção, isto se refletiu. Uma ação conjunta da classe trabalhadora ocorreu pela primeira vez nos 10 anos de governo de frente popular. A mídia dominante tenta esconder isto na sua lida contraditória entre os pacíficos e os vândalos, de seus conceitos rasos. Preconceitos, não conceitos.
Quem se mobilizou pela primeira vez ficou na prisão do atraso na consciência. Uma expressão do fenômeno é a condenação a todos os partidos. Uma falta de lucidez para a distinção. Mas do movimento vem uma lição. Quem está vivo, aprende.
O Brasil não vai manter a luta constantemente. Vai haver um abrandamento. Mas não voltará à situação de estabilidade anterior. O povo trabalhador quer outros caminhos. Outras auroras. Novos dias para viver.
Antonio Rodrigues Belon

Originalmente no Jornal de Jales, 24 de novembro de 2013; página 1-02.
Em http://blog.uol.com.br/showposts.html?idBlog=952432.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A consciência não tem cor.


Belo argumento. Cor é só a resultante de como a luz do sol reflete num objeto. No caso da cor de pele, quanto mais melanina, mais escura a pele é. E não, a pele preta não tem excesso de melanina e sim a pele branca que tem melanina de menos. Brincadeira. Não há uma quantidade certa de melanina na pele. Aliás, quanto mais variações, melhor.
A diferença entre um nativo da África e da Escandinávia não nos permite separá-los em raças. Isso porque a maior diferença entre ambos se dará especificamente num órgão: a pele. Uma será branca. Outra, preta. Portanto, não existe raça negra, nem raça branca, nem raça amarela. Existe a raça humana, com suas variações tópicas.
Essas duas afirmações seriam formas racionais de refutar o Dia da consciência negra. Seriam belos argumentos. Mostrariam que eu tenho algum conhecimento em Biologia, Fisiologia, Anatomia... sei lá. E mostrariam também uma coisa: ou eu sou um ET que acabou de chegar na Terra ou eu sou só um cínico mesmo.
Digo isso porque esse argumento é cínico. Ele não leva em consideração um milhão de outros fatores. Fatores esses que constituíram nosso País. Tais fatores impuseram aos homens de pele escura uma história ímpar de sofrimento em nossa “nação”, talvez apenas comparável a situação dos índios. Foram 300 anos de escravidão e depois outros 120 de marginalização. Você não pode fugir disso, isso está em nossos ossos. Faz parte da formação do nosso país.
A consciência não tem cor. E as pessoas de pele preta durante muito tempo também não tiveram. Se você é escravo, você não é dono de si, é apenas um objeto. Objetos não têm consciência. Consciência é o que difere o ser humano dos outros animais. Consciência é reconhecer-se. E para reconhecer-se é necessário saber como foi a sua caminhada para chegar até o hoje, o agora. Quantas vezes você já viu alguém comentando sobre sua ascendência alemã, espanhola, italiana, japonesa? E quantas vezes você viu alguém dizendo: meus ancestrais vieram do Congo?
Quando você se refere a seus ancestrais da Itália, você não está sendo racista, mas isso também faz parte numa tomada de consciência da pessoa que você é. Ora, se você tem esse direito, os afrodescendentes também tem. Mas eles não podem dizer de onde vieram. Sua linha temporal foi cortada por grilhões, chibatas e navios negreiros. Então, o Dia da Consciência Negra tenta ser uma espécie de marco zero. Um dia de auto reconhecimento e de luta também (só os conscientes são capazes de lutar por melhorias).
Esse dia não quer dizer separação, mas sim a necessidade de inserção. É um “estamos aqui”, embora alguns ainda tentem fingir que não.



Juliano Antunes Cardoso

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Quanto vale uma assinatura


 Nós, do Blog Opositores, há algumas semanas estamos recolhendo assinaturas para um Abaixo-assinado solicitando a alteração do ART. 204 do Regimento Interno da Câmara de Castilho para que as sessões ordinárias voltem a ser realizadas às segundas-feiras no período noturno, com início as 19:00 horas, para possibilitar que a maioria das pessoas que formam a população economicamente ativa possam ir as sessões.
 Certo dia, estava eu explicando o intuito do Abaixo-assinado para algumas pessoas conhecidas, quando uma delas me perguntou o que ganharia assinando aquele papel. Na hora me veio à mente um livro que li há algum tempo, denominado "O que o dinheiro não compra", de Michael J. Sandel, em que o autor disserta sobre à concessão de valoração monetária em detrimento da ética, da moral e do bem-estar mutuo, entre outras coisas, sobre assuntos onde o dinheiro não deveria ser colocado como mediador.
 Pensando sobre isto, percebi que este é o mal do Brasil. Encaramos a política como algo a ser valorado, ou seja, estipulado um preço. Esta mentalidade explica a venda do voto antes da eleição, pois o voto é encarado como uma mercadoria, em que o demandante é o político e o ofertante é o eleitor. Este tipo de pensamento faz com que o apoio político seja um “serviço” que pode ser oferecido pelos representantes da base de apoio e pago com a distribuição de cargos para os aliados.
 Por enxergarmos desta forma é que os ''mensalões", sejam eles petistas, tucanos ou de qualquer outro partido, são criados, porque o vereador ou deputado pensa que tem o direito apreciar, ou seja, colocar preço pelo seu voto favorável ao interesse do Executivo. Esta visão é o combustível que acende e mantêm acesa a corrupção, o câncer que debilita e corrói a república ou coisa pública.
A política deve ser encarada como um direito a ser exercido e não uma mercadoria a ser negociada.


 Referindo-se à pergunta que citei acima, é certo que mudar a sessão para noite não nos trará beneficio financeiro algum, nem receberemos favores ou não teremos os interesses próprios realizados em detrimento dos do bem público, porém teremos o direito de acompanhar e fiscalizar o trabalho dos vereadores que são nossos representantes no poder público, a possibilidade de pressionar para que não seja aprovado qualquer projeto em pauta que não represente nossos interesses e para que seja aprovado aqueles que sejam benéficos à sociedade.
 Com o projeto de Lei, nossas vozes poderão ser ouvidas. Poderemos evitar que casos como a libertinagem explicita da concessão da água aconteça novamente. Teremos a chance de nos tornarmos mais participativos, ajudando a escrever a história de nossa cidade. Hoje temos que engolir goela abaixo o que nos oferecem, mas com a mudança poderemos ter a possibilidade de escolha de ir ou não á sessão.
 Em minha visão limitada, esse é um poder que não pode ser comprado, negociado, pois emana do povo e deve ser utilizado pelo povo. Vendê-lo é prostituir-se.
 Se você leitor compartilha comigo essa visão, peço a sua ajuda para juntos mudarmos essa realidade. Ajude-nos a colocar em votação na Câmara Municipal o projeto de Lei para mudança do horário para as 19:00 horas. Isso é bom para a cidade e se é bom para o Município será vantajoso para todos os que nele residem. Ajude-nos com a sua assinatura! Valorize (aumentar o valor, dar importância) o seu direito político e não o valore (colocar preço)...
 
Silvinho Coutinho


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A propaganda e nossos desejos





Um homem que após a compra de um carro desfila sozinho pelas ruas de uma cidade dirigindo sua nova aquisição. Nas ruas, somente mulheres magras, altas e lindas. E claro todas o querem. A propaganda nos leva a crer que o motivo é o carro. Essas são algumas das propagandas que assolam o extenuante intervalo das programações de TV. 
Dias atrás estava assistindo à um programa qualquer na TV aberta e passou uma propaganda parecida com a descrita que me fez recordar do apresentador Marcos Mion. Não sei se se lembram do programa Descarga MTV que ele apresentava. Lá, ele constantemente dizia que o mundo girava em torno do sexo. Isso me chamou a atenção e me fez pensar que realmente parece ser o anseio de todos, pelo menos o que aparentam nas propagandas.
Mas será que esse é o objetivo ou nos fazem com que queiramos isso?
Há muitas propagandas com mensagem subliminar passando de forma imperceptível a ideia que faz vender: sexo. Quem não se lembra daquela propaganda do desodorante AXE, onde o cara passava o produto e caíam mulheres do céu? A chave do negócio é transmitir a ideia de que com esses produtos oferecidos você será mais atraente e desejável pelos outros(as).
Mas Freud já dizia que o que move o homem é o sexo. E é bem por aí que a coisa segue.
 Justamente se aproveitando das ideias do criador da psicanálise, que seu sobrinho, Edward Bernays, aplicou suas teorias para alavancar vendas por meio de propagandas que associavam os produtos a emoções e desejos muitas vezes inconscientes. O teor de seu trabalho se baseava nos princípios de que o homem é irracional e suas ações são manipuladas.
Assim, as propagandas nos fazem acreditar que precisamos comprar  algo por desejo e não por necessidade, ou seja, o desejo sobrepõe o lado racional.  Veja, por exemplo, como várias pessoas trocam de carro anualmente ou trocam de celular a cada lançamento de modelos mais avançados.
Bem, só posso terminar confessando que ao apelar à nossas fraquezas humanas as grandes empresas sabem muito bem como nos manipular por meio de suas campanhas publicitárias.

Thaís Coelho


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Expulsar a Águas de Castilho: na lei ou na marra?


Recentemente foi publicado em diversos sites de Castilho-SP e região matérias que dão conta da questão do abastecimento de água na cidade de Castilho.
Ao que parece, o quase levante promovido pela população do Bairro Nova Iorque colocou o assunto em pauta novamente. Não é pra menos, pois, a maior reclamação das pessoas daquele bairro era justamente as constantes faltas de água na torneira de suas casas. Algo que não ocorre somente lá, mas em várias outras partes da cidade.
Diante do ocorrido, era preciso uma resposta, afinal, a privatização da água é uma questão das mais discutidas no mundo político castilhense e foi amplamente explorada na última eleição. Todos esperam a prometida solução para o caso. Atualmente, talvez seja o maior clamor do povo, junto da qualidade no atendimento médico.
Entre informações e desinformações foi publicado que o prefeito pretende romper o contrato com a concessionária “dentro da legalidade”**, sugerindo que irá tentar, através da lei, caçar o vergonhoso contrato assinado pelo ex-prefeito.
Dentro do contexto, parece ser a saída mais coerente para se tentar. Afinal, o abusivo e escandaloso documento assinado prevê diversas indenizações caso a Prefeitura rompa o “acordo”.
Essa é a situação. Quem vê tem a impressão de um caminho estreito, de poucas, ou nenhuma saída. Tudo depende de promotores e juízes. Os mesmos que até agora pouco ou nada fizeram, mesmo diante de tantas evidencias de conluio e abuso de poder no processo de privatização do serviço de água e esgoto em Castilho e também de Andradina.
O que dá mais esperança é o fato da empresa/concessionária Águas de Castilho fazer muitas porcarias, sendo assim, é bem possível que justiça seja feita.
Para isso, a Arsae, agência reguladora do serviço de água e esgoto, foi melhor estruturada e através dela a Prefeitura espera se armar legalmente para por fim a esta privatização. Foram indicados novos funcionários para esta agência, sendo que dois deles tem histórico de luta pela causa. Resta saber se os demais que trabalham no local também estão comprometidos.
Mas, além desta alternativa poderiam tentar outras, tudo dentro da legalidade.  Por exemplo, mobilizar a bancada governista na Câmara e criar uma CEI “CPI” para investigar o descalabro que foi todo o processo que envolveu essa privatização. Afinal, todos na cidade suspeitam que os envolvidos no caso foram comprados. De repente, se o sigilo bancário e telefônico fosse quebrado poderiam tirar a prova se houve mesmo suborno. E ser for provado que houve suborno? Já mataria ali mesmo a questão. Ou qual juiz negaria o fim deste contrato diante de tais evidências?
É uma alternativa de um leigo no assunto jurídico, talvez existam mais. Quem sabe?
Portanto, a tal legalidade é um caminho que se apresentou, já o outro foi indicado pelo povo do bairro Nova Iorque que demonstrou que a paciência está se esgotando. As janelas do escritório da Águas de Castilho também mostram isso.

Dóri E. Lopes 

**Fonte: http://www.paparazzinews.com.br/noticia/1560-Dentro_da_legalidade,_queremos_romper_o_contrato_com_essa_empresa,_afirma_Joni_.html#.UngedL__1lI.facebook

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

SOBRE UM EXTERMÍNIO CONTINUADO


Escrever este texto é parte ─ urgente e incontornável, da luta contra um extermínio: um extermínio continuado. Começou com a chegada dos europeus; continua pela ação dos fazendeiros. Dizer tudo com clareza é uma forma de pensar e de lutar. Tomar partido pela vida; contra a morte e a bandidagem dos donos de terra, fazendeiros.
Os assassinatos de índios engrossaram uma lista já grande durante os dez anos dos governos do PT. Governo do PT, nacionalmente. No Mato Grosso do Sul, um governo dos antigos coronéis da terra em renovação como novos coronéis da industrialização. Mas sempre o mandonismo velho e mortífero para os índios.
            Os Guarani-Kaiowa do sul do Estado de Mato Grosso do Sul passam fome e sofrem todo tipo de necessidades em razão do cerco dos brancos e ricos proprietários de fazendas.
            Vivem acampados próximos à tekoha (lugar onde se é) Yvy Katu, nos municípios de Japorã e Iguatemí (MS). Tudo falta na vida deles.
            Homens, mulheres e crianças sofrem. O descaso dos governos municipal, estadual e federal não é o pior. A violência armada dos latifundiários é inaceitável quando se adota qualquer critério civilizatório.
            Nós do interior do Estado de São Paulo, nós fronteiriços ao Mato Grosso do Sul, temos dilacerado o nosso ser como é retalhada cruelmente a carne do indígena. A dor ecoa.
            Para ser mais claro, se isto ainda é possível: fim do extermínio, já!


Antonio Rodrigues Belon



                                                                                                                       

Quem pariu os black blocs que os balancem!


"Se os militares tomassem o poder não estaria essa baderna!"
Frases desse tipo foram cada vez mais ouvidas ou lidas nas páginas do Facebook à medida que os protestos no Brasil foram aumentando e com o surgimento dos ditos Black Blocs, (mascarados que usam da força, promovendo ataques contra o que consideram símbolo do Capitalismo como bancos e empresas multinacionais) além de confrontar as forças policiais, que são designadas para manter a ordem.

Em Castilho, há uma semana, tivemos uma manifestação onde os nossos Black blocs, sem máscara, porém pintados de preto com carvão, fecharam a entrada e saída da cidade com pneus em chamas, impedindo as pessoas de entrarem e saírem da cidade pela via principal.
Houve aqui também o uso da força, confusão, desordem, e violência em certa medida, causando transtornos para pessoas que, como eu, tiveram que ir pela estrada de terra passando por Paranápolis para chegar em Andradina. Tudo isso por motivos como falta de moradias, iluminação pública, a falta constante de água para os moradores daquela localidade, entre outros problemas que afetam a qualidade de vida daquelas pessoas.
Depois do ocorrido algumas pessoas questionaram a Polícia Militar por não ter chegado a “marreta” nos manifestantes, pois, onde já se viu um bando de “vagabundos” tirar o direito de ir e vir das pessoas? Alguns disseram que se fosse no tempo dos militares esses desordeiros não teriam essa coragem de fazer bagunça. Outros defenderam que se deve protestar sim, mas com ordem e diálogo, que o uso da força não é legítimo.
O que muitos não percebem é que não há nada simples quando se diz respeito ao ser humano. Os black blocs, sejam os das capitais ou os nossos, não surgiram do nada, mas foram gerados e depois abandonados por seus pais, se tornando crias rebeldes. Mas quem são os genitores dos “baderneiros”?
O sistema capitalista é uma mãe de vários filhos que não consegue disfarçar sua preferência por alguns, se empenhando no cuidado de poucos e se ausentando do cuidado de muitos. Ela vê que não pode oferecer o seu melhor para todos e por isso sem culpa age com negligência, deixando as migalhas que caem da mesa dos seus preferidos para alimentar os “cachorrinhos”.
Créditos: Portal Castilho
Já o Estado é um pai obeso, preguiçoso, que não trabalha o suficiente para garantir o sustento de todos os seus filhos. Ele não consegue oferecer segurança, educação, saúde para toda sua prole e, por isso, fecha os olhos ao ver a mãe tratando suas crias de maneira tão desigual.
Alguns dos que não se sentam a mesa do baquete familiar acreditam que podem um dia fazer parte, afinal alguns poucos irmãos mais velhos conseguiram por esforço adquirir uma vaguinha. Outros, mesmo sabendo que não tem condições de se sentar a mesa, não se importam, pois pensam que o importante é manter a “ordem”. Porém, essa distorção gera em alguns o ódio por verem que alguns irmãos tem a dispensa toda da família a seu dispor, enquanto a maioria deve se contentar com o que sobra da ração dos gatos e é esse ódio que faz surgir os black blocs, ou os caras pintadas daqui, que mais do que melhorias, querem acabar com a ordem do mundo em que vivemos, causar transtornos para que sejam percebidos, desafiando a ordem que não os beneficia.
E agora me pergunto: usar da força militar, seja a PM ou as forças armadas, vai resolver o problema? Claro que não, mas para quem está sentado a mesa isso não interessa, desde que seus irmãos “punks'' parem de atrapalhar seu almoço.  Isto é perfeitamente compreensível, agora ver pessoas que estão a margem, defendendo este discurso me causa certo estranhamento.
Exigir ordem e diálogo de quem mal sabe se expressar por não ter tido uma educação de qualidade, que cresceu em uma família onde pai e mãe não foram tão presentes, pois ambos tinham que se matar de trabalhar para dar o mínimo para o filho. Alguém sem acesso à cultura, a lazer, alguém que quer ter as mesmas coisas que vê as pessoas das novelas tendo, bombardeados pelo marketing que cria uma necessidade "artificial" no indivíduo apenas para inserir um desejo de obtenção de algo por vezes inútil, mas que faz seus olhos brilharem, mas que ao trabalhar em uma fábrica ou no comércio percebe ao receber seu primeiro salário que esta vontade de compra não pode ser satisfeita.
Exigir diálogo de alguém invisível para o poder público, que percebe que só é “percebido” como ser humano na época da campanha eleitoral. Exigir ordem de ideias a alguém que nasceu no útero da violência e aprendeu desde cedo a linguagem universal do medo. E pior, torcer para que as forças de ordem utilizem dessa mesma violência para que a “paz” volte é no mínimo contraditório.
Só uma reforma no sistema pode amenizar o ódio destes filhos rebeldes. Quando o capitalismo for menos selvagem e excludente (se é que isso é possível) e quando o Estado enxergar mais o indivíduo, buscando criar condições para que o mesmo se desenvolva, e quando digo isso não falo apenas economicamente, mas proporcionando conhecimento, cultura, lazer e experiências de vida, o ensinando a refletir, pensar, criticar para que dessa forma possa saber dialogar. Antes disso, podemos até não concordar com os meios utilizados, mas temos que compreendê-los, deixando de lado este discurso raso que frequentemente adotamos, de que todo tem as mesmas oportunidades, de o que o diálogo resolve todos os problemas do homem.



Se os franceses pensassem assim, a Revolução Francesa nunca teria ocorrido e aquele país ainda hoje seria governado por reis opressores e que pouco se importavam se haviam miseráveis nos arredores do Palácio, entre outros exemplos claros onde era necessário criar a desordem para gerar uma nova ordem melhor para os cidadãos.
Se não houver mudanças profundas na forma como são desenvolvidas as relações econômicas e sociais, teremos que conviver com os infortúnios da revolta, afinal, como diz o ditado popular: “quem pariu os black blocs, que os balancem”

Silvinho Coutinho