sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Castilho: a cidade onde Pablo Escobar seria eleito...

Há uns dias terminei de assistir no Netflix a segunda temporada da série Narcos. Pra quem não conhece, a série retrata a vida do talvez mais famoso traficante de drogas da história, o colombiano Pablo Emílio Escobar Gavíria, ou Pablo Escobar como era mais conhecido.
Nessa temporada, Pablo, interpretado pelo excelente ator brasileiro Wagner Moura, vê seu império desmoronar aos poucos, travando uma guerra sangrenta com rivais do mundo do tráfico de drogas, no caso, o Cartel de Cali, e o Grupo de Buscas da Polícia Colombiana, em conjunto com forças do DEA (Departamento Anti Drogas dos Estados Unidos).
Com cada vez menos dinheiro, e com um número cada vez menor de sicários (assassinos particulares), por muitos serem mortos ou presos, Pablo Escobar, aquele que no passado foi considerado pela Forbes o sétimo homem mais rico do mundo, eleito para assembléia parlamentar da Colômbia, que tinha inúmeros seguidores em sua cidade Medellin, se vê morrendo sozinho, em um telhado, tendo como companhia apenas seu ultimo “companheiro’’, o motorista “Limon”.
 “Limon”, na série, é um motorista de táxi que por conhecer um dos principais sicários de Pablo, acaba por se tornar o seu motorista, levando o escondido no porta-malas pelas ruas de Medellin, para que a polícia não o prendesse.
Pode se ver no personagem a admiração, um misto de amor e temor que transcende nos olhos e no comportamento de Limon, admiração essa que nasceu em uma Medellin abandonada pelo poder público, onde um traficante constrói casas (a mãe de Limon mora em uma casa construída e doada por Escobar), hospitais, escolas e dividi uma pequena parte de sua imensa fortuna com essa gente miserável, que sofre de uma carência de cuidado, que é desprezada por quem diz lutar por eles, no caso, os políticos convencionais.
Limon, um jovem até então sem antecedentes criminais, ao conviver com essa realidade se transforma em um tipo de “monstro” capaz das piores atrocidades em nome da lealdade para com aquele que para ele representa a figura de um pai.
Essa forma de “amor” reprime ate seus instintos mais primitivos, não tendo mais sua sobrevivência como prioridade e sim a sobrevivência e a vontade de seu “patrón”.
Limon morre, mas morre atirando, se oferecendo em sacrifício ao seu “santo”, como muitos outros antes dele, vertendo seu ao chão como oferta, impura e desagradável a sociedade.
Castilho, minha “meretriz favorita”, tem em sua história um que de Medellin. Uma sociedade pobre, por anos esquecida e abandonada à própria sorte. Um povo que se acostumou a alimentar-se das migalhas que caiam das mesa dos poderosos e, tendo isso por suficiente, se prendeu a uma devoção inconsciente, irracional, passional. Gente disposta a dar o sangue para defender a honra de seu "benfeitor".
Politicamente falando, Castilho possui muitos "Limons", de várias idades, credos e cores. Alguns, pobres, sem uma oportunidade clara de melhoria de vida, aceitam vender sua liberdade de pensamento por qualquer bocado de pão. Outros, nem tão pobres, mas acostumados ao assistencialismo, não conseguem enxergar uma cidade onde a prefeitura ou os políticos não banquem toda sorte de "ajuda". Preferem vender a alma ao diabo e conseguir uns favores que no fim custam caro, do que apoiar alguém que crie melhorias reais para a sociedade como um todo. Aceitam que o político enriqueça as custas dos cofres públicos, mas não aceitam um político que não pague uma conta de luz, ou ajude em uma festa de fim de ano, pois isso sim é um absurdo imperdoável! Não importa de onde vem o dinheiro, desde que tenhamos nossa parte...
Castilho possui seus “Escobares”, dispostos a qualquer coisa para atingir seus objetivos. Sem escrúpulos, utilizam-se de seu poder financeiro e do discurso para comprar a lealdade, a mente, o fanatismo. Criam seu exercito de soldados dispostos a lutar uma guerra que não é sua, para atender aos interesses que não são seus, motivados por uma paixão cega e destrutiva.
Como o de Medellin, os Escobares castilhenses utilizam qualquer meio que está em suas mãos para fortalecer seu discurso contra os inimigos, não se preocupando com o tamanho do estrago que irão causar. Se necessário perseguem, amedrontam, difamam, utilizam pessoas próximas que não podem se defender, simplesmente para atingir o alvo, acabar com qualquer ameaça nem que para isso causem dor a famílias inteiras. Utilizam seus preciosos recursos humanos, para reproduzir seus discursos de ódio, suas ideias e atrocidades, a fim de que no final saiam vitoriosos, enquanto seus vassalos se estapeiam por uma porção de comida.
Eu, graças a Deus, a minha mãe, a minha avó, ao meu pai, e meus amigos, não nasci pra ser "Limon". Não consigo ter essa devoção a quem faz menos do que deveria e poderia fazer. Não me contento com sobras e não confio nesses "Messias" que tudo podem, como se políticas públicas saíssem do papel como num passe de mágica.
Fujo de pessoas com síndrome de Deus, que são fechados em si mesmo, vistos por si mesmo e por seus seguidores como onipotentes, mas que a meu ver são apenas prepotentes, mentirosos e enganadores. Tais pessoas propõem o absurdo como se bastasse sua vontade para ser colocado em prática, como se dissesse "Haja Luz" e a luz surgisse.
Eu prezo por propostas que melhorem o coletivo, que criem condições para que cada um exerça sua liberdade, não precisando se sujeitar a “boa vontade” de ninguém.
Assistência deve ser dada, pelo tempo necessário, atendendo a quem realmente precisa, servindo como base para que outras ações possam, a médio prazo, libertar a pessoa da tutela do estado. É preciso primeiro dar o peixe, para que a pessoa se alimente, tenha força para que essa depois possa pescar, mas, como a mesma irá pescar se não tiver vara, linha, anzol e isca? É preciso criar meios para que ela não precise receber o peixe pra sempre..
Espero que um dia, nossa cidade seja um local onde ninguém mais precise "olhar" para os pobres, pois não exista mais ninguém que precise ser "assistido". Onde pessoas tenham bons empregos, não precisando se humilhar em época de eleição para tentar conseguir um “carguinho”. Que a cidade dê acesso a uma educação de qualidade, que de condições para um crescimento profissional no futuro, para que não fiquem a mercê de nossos "Escobares".
Mas, e você? Quer ser pra sempre dependente? Se já tem seu "benfeitor" é sinal que busca a sela, a tutela e as migalhas, agora, se como eu, odeia depender de alguém, e ter que depois se prestar a vontade dele, faça um favor a si mesmo, vote em quem tem propostas racionais, reais e possíveis, pois são essas que tem uma impacto maior e melhor no futuro, pois do contrário, ainda conviveremos muito tempo com essa política do cabresto moderno.
Mas, se depois de tudo isso, ainda escolher por um candidato que de dinheiro, edredom, material de construção, cesta básica e afins, manteremos nossa amizade, pois ao meu ver, você é livre até pra se aprisionar em um pasto pequeno, sem grama verde, esperando a mão do criador te dar uma porção pequena de feno...


Silvio Coutinho

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